Proteção Solar - Luz azul, sinal amarelo

Proteção Solar - Luz azul, sinal amarelo
A ação desta faixa de luz visível ganha relevância dentro do mercado cosmético e tem tudo para movimentar a indústria e os consumidores, que estão cada vez mais expostos a dispositivos eletrônicos. Mas há pontos que precisam ser levantados e avaliados



É quase que uma covardia perguntarmos logo de cara se você sabe quantas vezes acessou ao seu smartphone hoje ou há quanto tempo está em frente a um computador. Todos sabemos o quanto grande parte da população é dependente atualmente desses aparelhos em seu dia a dia. O que muitos ainda não sabem são os riscos que essa exposição excessiva pode trazer para sua pele e outras partes do corpo. Todos esses aparelhos citados, bem como televisores e tablets, emitem raios de luz azul, um dos mais prejudiciais. Esta luz azul também faz parte do espectro de raios que é emitido pelo sol. Dentro do espectro solar, ela é um dos comprimentos de onda que está contido na faixa da luz visível.

Trata-se de um tema em voga já há alguns anos e de conhecimento de especialistas, indústria e até mesmo de alguns consumidores mais precavidos. Porém, não está nem um pouco difundido se formos levar em consideração uma série de fatores, notadamente dois deles, como os riscos que essa luz azul pode trazer e a quantidade de tempo a que estamos expostos diante desses dispositivos eletrônicos na atualidade. Segundo a Mintel, os millennials norte-americanos chegam a verificar seus telefones até 157 vezes por dia, enquanto os adultos o fazem por 30 oportunidades em média.

A consultoria afirma ainda que estudos científicos apontam que a luz azul perturba padrões de sono saudáveis, além de associarem esta luz à redução nos níveis de carotenoides (antioxidantes) na pele e à indução da hiperpigmentação na pele marrom clara a média significativamente mais do que quando exposta raios UVB. A cosmetóloga Sônia Corazza endossa dizendo que o grande mal que a luz azul faz é suprimir a produção de melatonina, o hormônio ligado ao sono. "Hoje tem uma infinidade de trabalhos científicos que mostram que essa supressão na produção de melatonina complica a regeneração celular e isso interfere em todo o processo de renovação das células, não só da pele mas também de todo o couro cabeludo, e acaba atrapalhando todo o ciclo pilar. Assim, os fios de cabelo não se desenvolvem mais em suas fases anágena, catágena e telógena", detalha.

Para Sônia Corazza, nem a indústria cosmética, tampouco a população, tem conhecimento dos reais riscos ligados à luz azul. "Quando você tem a supressão de um hormônio que regula o sono, sabendo que ele é o grande mentor do processo do equilíbrio celular e orgânico, então o processo é bem maior, pois não temos apenas as perdas, vamos dizer assim, reais para a pele e cabelo, que são visíveis. O ?buraco é muito mais em cima?, há as perdas mentais. É o estado de estresse que a pessoa vai sendo levada agora no Século XXI, já que o estresse é um grande imunossupressor, o que vai comprometer o todo da saúde", acrescenta a cosmetóloga.

De acordo com Luciene Bastos, gerente Regional de Negócios da área de  Cosmetic Ingredients da alemã Symrise, a hiperpigmentação persistente é o grande problema ocasionado pela ação da luz azul na pele. Trata-se do aparecimento de manchas que são mais difíceis de serem "removidas" do que as manchas causadas pela radiação UV. "Comprovamos a efetividade de nossos ativos em inibir o aumento de melanina induzida pela luz azul por técnicas in vivo e ex vivo. Compara-se o teor de melanina no melanócito na presença ou ausência de nossos ativos mediante a exposição à luz azul. Desta forma demonstramos a redução significativa do teor de melanina proporcionado pelos nossos ativos em comparação com o placebo", explica.
 
Conscientização desafiadora
Justamente pelo fato de que, quando se fala em luz azul, se faz a relação à exposição solar, há um grande desafio por trás na hora de se trabalhar a difusão deste tema. Basta fazermos um exercício simples de pensamento para imaginarmos o tamanho deste percurso. Para isso, usaremos justamente a categoria de Proteção Solar. Hoje, é possível dizer que evoluiu muito a conscientização da população acerca dos riscos existentes por uma exposição ao Sol feita de maneira indevida. Com o intenso esforço da indústria, que massifica campanhas e oferece diferentes produtos com distintos atributos, é difícil encontrar uma pessoa que não saiba citar ao menos um problema que uma exposição solar excessiva pode trazer à sua saúde. Entretanto, ainda assim, os dados que tratam da maneira como a população se protege do Sol são alarmantes, com o consumo mais elevado de protetores ainda estando relacionado aos períodos de calor, mar e piscina.
Este cenário descrito pode ser desafiador pelo seguinte, se a população, de certa forma, está mais consciente sobre os riscos de não se proteger do Sol e tem algum conhecimento de como aplicar corretamente um protetor solar, mas mesmo assim ainda não se protege devidamente, que dirá se proteger de algo que está dentro de casa ou de um escritório? Esta questão consequentemente nos levará a tentar entender que tipo de produto seria utilizado para que haja uma devida proteção contra a luz azul emitida por dispositivos eletrônicos. Logicamente que não faz muito sentido uma pessoa aplicando um protetor solar, que até pode trazer uma proteção contra luz azul, só que dentro de casa ou para ficar em um ambiente, digamos, sem estar sendo atingido pelos raios solares.

A solução pode estar então em produtos mais leves que um protetor solar, itens de uso diário, por exemplo, que tragam ativos que protejam contra este "novo mal". Porém, antes de entrarmos em caminhos em termos de produtos, temos de pensar em meios de criar demandas para que este consumidor mude seus hábitos e se conscientize de que também é preciso se proteger da luz azul. Por isso, a comunicação será fundamental neste processo e justamente aqueles que são os emissores da luz azul deverão ser utilizados para realizar esta comunicação. "Um jovem, por exemplo, tem em seu celular um dos principais emissores de luz azul no seu dia a dia, pois este emite radiação contínua em sua face. Por que não aproveitar o próprio celular para comunicar os perigos desta emissão e suas formas de prevenção?", sugere Claudio Ribeiro, coordenador de aplicação - PHHC da Lubrizol.

Mas, antes dessa comunicação, digamos, mais direta, Claudio acredita que o primeiro passo junto ao consumidor seja o esclarecimento. Para o coordenador, o usuário deverá ser informado de forma clara do que se trata essa luz, que danos pode causar e como deve e pode se proteger. "É preciso fazer o consumidor entender que pode se proteger do sol, mas não da luz azul. Fazê-lo refletir e, com isso, despertar o interesse pelo tema e necessidade de proteção, incluindo nesta nova realidade um novo tipo de consumidor, o que utiliza muita tecnologia", situa. A Mintel acredita, inclusive, que ao propagar a conscientização sobre a luz azul também ajudará no desenvolvimento da maneira como a população deve se proteger do Sol.

Ainda fazendo uma relação com a Proteção Solar, lembramos que uma exposição indevida pode trazer sérios problemas à pele e também à saúde das pessoas, considerando o caso mais o extremo que é o câncer de pele. Ou seja, os riscos são sérios e muitas pessoas sabem disso, mas ainda há muito a evoluir para uma proteção ideal. Porém, o cenário pode mudar quando algo traz problemas à pele que mexem com a beleza das pessoas, como é o caso da luz azul e as manchas na pele. É claro que este não é o cenário ideal, mas, neste caso, o fator da "preocupação com a beleza" pode ajudar mais na conscientização da proteção contra a luz azul do que a "preocupação com a saúde".

Mesmo assim, Julio Bombonati, gerente de Marketing da Symrise para a área de ingredientes cosméticos, acredita que o viés da saúde pode também ser explorado na hora de se trabalhar o conceito de proteção contra luz azul. Apesar de destacar que a vida das pessoas, principalmente em grandes centros, esteja cada vez mais indoor, ele acredita que o movimento Health and Living pode ser explorado também. "O consumidor não vai abrir mão da tecnologia e nem de viver neste mundo de maior facilidade que a tecnologia está proporcionando. Entretanto, ele quer viver saudavelmente e melhor nessa nova plataforma", crê.

Caminhos para se trabalhar
Apesar da relação próxima entre o tema "luz azul" e a categoria de Proteção Solar, a indústria cosmética pode desperdiçar boas oportunidades caso trabalhe os dois temas juntos, de uma maneira incorreta mercadologicamente. Este tema tem tudo para ganhar bastante relevância daqui para frente e a proteção contra a luz azul deve aparecer com mais frequência nos próximos lançamentos cosméticos. Com isso, serão dois movimentos que acontecerão no mercado: um que diz respeito a novos produtos que surgirão, desenvolvidos especificamente para trazer proteção contra este tipo de luz; e o outro movimento será de produtos já existentes, que foram criados com outro propósito, mas que serão ?turbinados? com a adição deste conceito. A Symrise, por exemplo, já vem sendo demandada atualmente por esses dois perfis de clientes. "Temos aqueles que já têm produto no mercado e querem fazer um update, atualizar esses claims, assim como clientes que estão lançando produtos e querem trazer também estes benefícios", ilustra Luciene Bastos.

Hoje, a cada lançamento de um protetor solar nem sempre é possível inovar. Porém, como a indústria precisa ofertar novidade, ao menos algum novo atributo pode surgir. Historicamente, nesta categoria, os raios UVB eram a única preocupação no início, depois foram descobertos os riscos dos raios UVA, mais tarde dos raios infravermelhos e agora da luz azul. E o consumidor, embora possa ter dificuldades para entender as especificidades de cada raio, já está acostumado a ser "bombardeado" por novos claims que a indústria oferta. Julio Bombonati, da Symrise, acredita então não fazer sentido a indústria lançar um novo produto apenas para proteção contra luz visível e diz que, de acordo com a evolução mercadológica e a evolução de produto, também não faz sentido desconectar os raios UVA e UVB da luz azul. "Sendo assim, as propostas de proteção combinando o full light protection são muito bem-vindas", discorre.

Este tipo de proteção "full" também é a aposta de Claudio Ribeiro, da Lubrizol. "O que acontecerá no futuro é a adição de componentes específicos para proteção ou reparo de danos causados pela luz azul, por meio de produtos com um maior espectro de proteção, não só contra a radiação UVB e UVA, mas também contra o espectro azul da radiação visível", crê. Ele vislumbra que, nos próximos anos, devem ser desenvolvidos produtos para uso indoor e outdoor, que serão diferentes do protetor solar comum. Os novos protetores, segundo o coordenador de aplicação ? PHHC da companhia de matéria-prima, serão usados para quem trabalha na frente de um computador ou utiliza muito um celular, por exemplo. "Provavelmente, oferecer um produto que possui um ativo contra luz visível será uma diferencial a mais, pois este irá além do tradicional protetor solar FPS, da maquiagem com filtro solar e do hidratante com função protetora", imagina.
Soraya Oliveira, gerente de Pesquisa e Desenvolvimento da Adcos, garante que o assunto "luz azul" já faz parte da rotina da companhia capixaba há tempos. Segundo ela, o tema tem se intensificado no mercado e uma prova disso é o número crescente de empresas fornecedoras de matérias-primas que tem apresentado soluções em princípios ativos para esta finalidade. "Acredito que os cosméticos passarão a ampliar o espectro de proteção prevenindo o aparecimento de manchas e o envelhecimento precoce usando este novo arsenal terapêutico", corrobora. Soraya observa que, à medida que este assunto sai da comunidade científica e cai nas diversas mídias mais massivas, o consumidor despertará para esta necessidade. "Por enquanto, à conjugação destes ativos como complemento a ação de produtos (anti-idade, hidratantes etc) que são mais facilmente assimilados pelo consumidor em seu dia a dia, passa a ser uma estratégia de levar este benefício a eles."

Enquanto não há uma movimentação mais intensa por parte da indústria cosmética apresentando soluções no combate à luz azul, Sônia Corazza sugere que um caminho possa ser o de colocar proteção nos dispositivos, ou seja, nos emissores da luz azul. "Hoje, há trabalho científico que mostra que uma exposição à luz azul de oito minutos já suprime 50% da produção de melatonina. Então, acho que a ideia é trabalhar nos emissores, seja colocando um filtro no smartphone, no computador ou na própria lâmpada, do que proteger as pessoas. Acho que elas podem até se proteger da radiação solar, mas a quantidade de luz azul que tem lá está muito aquém de causar um dano como causa um celular em que uma pessoa está o dia inteiro grudado nele", recomenda a cosmetóloga.

Outra componente do time da indústria, Ana Coutinho, que atua na Diretoria Médica da Pierre Fabre, cita os danos que a luz azul causa aos olhos. Porém, ressalta que não existe a comprovação mensurada dos riscos que esta luz traz à pele. "Os estudos, embora inconclusivos, mostram que a quantidade de radiação (ultravioleta, luz visível e infravermelha) produzida por esses aparelhos ainda é pequena e insuficiente para produzir danos cutâneos. E na verdade ainda não se sabe qual seria a quantidade necessária para produzir tal dano. Mas os estudos continuam a ser feitos e podemos ter novidades no front", considera ela, que, assim como Sonia Corazza, sugere que a proteção deva ser feita por meio de protetores de tela e até mesmo com óculos, assim como aplicando fotoprotetores que ajam contra os danos causados pela luz azul.

Indústria em movimento
Embora ainda haja muitos pontos a serem esclarecidos acerca da real ação da luz azul para o corpo e como este tema deve ser melhor explorado, já existem players da indústria atentos a isso e com produtos que, de alguma maneira, tratam do combate à luz azul. A Adcos, por exemplo, garante que os filtros solares tonalizantes de seu portfólio trazem em suas composições os óxidos de ferro, que são pigmentos capazes de reduzir a ação da luz visível sobre a pele. "Além de pigmentos, temos trabalhado com alguns princípios ativos antioxidantes, que agem reduzindo os danos que a luz azul emitida por aparelhos e iluminação artificial possam causar na pele", emenda Soraya Oliveira. Esses filtros solares tonalizantes possuem versões, gel-creme, fluid, pó compacto, stick e duo cake. "Recentemente lançamos o Protetor solar fluid FPS 99, com o ativo Melanin. Trata-se de uma melanina fracionada e sintetizada a partir de tirosina vegetal que protege a pele dos danos causados pela luz na faixa do violeta ao azul."

Ana Coutinho, da Pierre Fabre, concorda que os melhores produtos para este tipo de agressão visível são os fotoprotetores com antioxidante associado ao óxido de ferro e cita que a concentração ideal é de 3,2%, como é utilizado no pó compacto com cor da Avène, FPS 50. "Esta combinação, se utilizada de forma correta em camada ideal com reaplicação adequada, impede os efeitos indesejáveis desse tipo de radiação como as manchas de difícil tratamento", explica a integrante da Diretoria Médica.

A Skinceuticals, marca da L'Oréal Cosmética Ativa, trouxe recentemente para o Brasil o Discoloration Defense, um sérum multicorretivo de uso diário e contínuo, que atua nas principais causas da formação de tonalidade da pele. De acordo com a companhia, este produto, além de corrigir as diferenças de tonalidade, uniformiza o tom, recupera a luminosidade e melhora a textura da pele. A marca conta que o Discoloration Defense possui uma combinação de ativos capazes de clarear os mais diversos tipos de manchas como melasma, hiperpigmentações pós-inflamatórias, hipercromias globais geradas pelos mais diversos estímulos, como exposição à radiação UV, luz visível, processos inflamatórios e etc. "Sua tecnologia multimecanismo é capaz de inibir diversas vias que estimulam a hiperpigmentação da pele e assim alcançar excelentes resultados no seu clareamento", diz a marca em comunicado para a Atualidade Cosmética, que ainda cita que a quantidade necessária de luz azul para estimular a hiperpigmentação é facilmente acumulada após uma hora de exposição solar ao nível do mar ou com o uso contínuo e constante de gadgets.
Fora do Brasil, também já existem produtos direcionados a combater a ação desta luz visível, sendo alguns deles específicos contra a luz azul. A Mintel relaciona alguns exemplos, como o Moonlight Primer, da norte-americana Make, um gel que busca combater a luz azul e a poluição, enquanto hidrata a pele; já o Ultimate XL UV Protection CC Cover SPF 50/PA++++, da Lancôme, visa bloquear os efeitos de fotoenvelhecimento da luz azul, juntamente com uma ampla proteção contra raios UVA/UVB; o gel UV Protect SPF 50+ PA++++, da japonesa Attenir, possui uma fórmula anti-aderente para o corpo que protege contra os raios UVA/UVB, a luz azul e a poluição do ar; enquanto isso, o Sun Marine Anti-Ageing and Sunscreen SPF 80 PPD 27, da Biomarine, e o 365 Skin Repair Light Mousse Creme SPF, da Lancaster, contam com tecnologia para fornecer proteção contra UVA, UVB, luz infravermelha, luz visível e poluição.
 

ATENÇÃO DESDE CEDO
A evolução da internet e da tecnologia em computadores cresceu de maneira avassaladora neste século, fazendo com que as pessoas ficassem cada vez mais em frente ao PC. Com o advento dos smartphones e sua consequente evolução, a exposição a dispositivos eletrônicos aumentou drasticamente. Se pensarmos na classe trabalhadora de hoje, temos pessoas que nasceram em sua maioria antes do ano 2000 e pegaram toda essa evolução, basicamente, já adultos. Ou seja, elas começaram a ser atingidas pela luz azul de maneira mais incisiva com uma idade mais avançada.

Agora, e se levarmos em conta a geração mais nova, cuja criança tem acesso a telefones celulares e tablets cada vez mais cedo, será que ela tende a ter os problemas ocasionados pela incursão da luz azul de forma mais agressiva? Na visão de Luciene Bastos, da Symrise, e que também é pesquisadora, a resposta é sim. "As nossas crianças terão muito mais problemas futuros do que nós, uma vez que elas estão expostas a este tipo de dano desde muito pequenas", lamenta ela. Embora a tendência quanto a este risco com os pequenos de hoje seja algo iminente, só saberemos de fato a longo prazo se isso se confirmará. Mas seria interessante se, hoje, já olhassem para esta questão com relação aos pequenos.
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